56 mulheres, homens e crianças foram calorosamente recepcionados em uma pequena comunidade rural na França.
Entissar, refugiada sudanesa, entra em Thal-Marmoutier, vilarejo no leste da França. © ACNUR/Benjamin Loyseau
Em um dia de inverno, um grupo de refugiados recém-chegados da África caminha pela neve que cai em um vilarejo no leste da França.
Motivados pelo desejo de ajudar, alguns dos 800 moradores da pacífica comuna de Thal-Marmoutier se juntaram para dar as boas-vindas a refugiados africanos e guiá-los em seus primeiros passos rumo a uma nova vida.
Pelos próximos quatro meses, 56 mulheres, homens e crianças serão hospedados por freiras franciscanas em seu convento, enquanto uma ONG francesa, a France Horizon, os ajuda a criar raízes em solo francês.
Vinte e cinco refugiados – da Eritreia, da Etiópia e do Sudão – estavam detidos na Líbia e foram evacuados para o Níger pelo ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados. Lá, eles se juntaram a outros refugiados da República Centro-Africana, Mali e Nigéria, e todos foram levados para a França para serem reassentados.
O prefeito de Thal-Marmoutier, Jean-Claude Distel, disse que a operação ocorreu tranquilamente. “Os refugiados apreciaram as boas-vindas que receberam dos moradores e, de nossa parte, estamos satisfeitos por termos conseguido dar uma pequena contribuição para o seu reassentamento, além de fornecer a eles tudo o que precisam para se integrar à vida da nação”.
Conheça as histórias de alguns moradores do vilarejo:
Durante o dia, Abel corre de um lado para o outro no convento e cuida de tudo um pouco: desde marcar consultas médicas e reabastecer o sabão até levar pessoas para seus treinos esportivos.
Ele é o funcionário da France Horizon encarregado da recepção e alojamento dos refugiados no vilarejo.
Abdel vive temporariamente no convento. “É muito importante para mim morar aqui para garantir que tudo corra bem aqui e no vilarejo, além de ajudar na adaptação”, diz.
Psicólogo, ele é apaixonado por ajudar pessoas em circunstâncias difíceis. “Com o tempo, percebemos que as pessoas que recebemos sofreram atrocidades terríveis”, conta.
Quando o grupo chegou em Thal-Marmoutier, Abdel e sua equipe de sete pessoas organizaram atividades como oficinas de culinária e aulas de ioga em parceria com outras organizações do governo local.
Hoje, uma equipe médica que trabalha com o Hospital da Universidade de Estrasburgo fornece exames de saúde para os refugiados, sob a supervisão de Abdel. Os novos moradores se revezam para ir ao médico e certificar-se de que estão bem.
Abdel trabalha para conscientizar os moradores sobre a realidade dos refugiados. “Estou satisfeito e orgulhoso de dar as boas-vindas e tranquilizar os refugiados e os nativos, explicando que não devemos ter preconceitos ou estigmatizar pessoas que não conhecemos”, afirma.
Do lado de fora da sala de aula do convento, os acordes da tradicional música “Alouette” podem ser ouvidos. Para a maioria dos alunos, essas palavras são justamente as primeiras que eles cantaram em francês.
As crianças sentam no chão enquanto a professora fica no centro, pronunciando as palavras. Esta aula é o ponto de partida para a matrícula no sistema público de ensino.
“É uma alegria dar aula para eles”, diz a professora, Sylviane. “Eles são alunos motivados que realmente querem aprender”.
“Percebo que eu mesma teria dificuldade de reproduzir um som no idioma deles ou lembrar de novos fonemas. Estou muito impressionada”.
Os refugiados adultos passam a maior parte do dia em aulas intensivas de francês, organizadas pelo Escritório Francês de Imigração e Integração. O refeitório do convento é usado como sala de aula após as refeições.
Mohammed, o professor, está preparando-os para a vida no país. Ele ensina como se apresentar, a falar de onde vêm e sobre as circunstâncias familiares. Ele explica como se virar na França e como ler placas de rua.
“Nós apresentamos a eles a vida na França, ao transporte público, a como ler um mapa em uma parada de ônibus… as pequenas coisas da vida cotidiana”, diz Mohammed.
As aulas também ensinam os recém-chegados sobre diversidade cultural, como a vida funciona na França, como as eleições são organizadas, a separação de poderes e a diversidade da sociedade francesa.
“Alguns hesitaram no começo, mas, no final, se tranquilizaram quando as coisas foram devidamente explicadas”, diz.
Ninguém entende melhor a situação dos refugiados do que Nicolas, refugiado e coordenador social e educacional da France Horizon.
Há tempos ele é um trabalhador humanitário dedicado. Tudo começou quando ajudava a distribuir alimentos para refugiados ruandeses em seu país de origem, a República Democrática do Congo (RDC).
“É um prazer enorme ajudar os outros a progredir”, diz. “É o que mais gosto na vida”.
Nicolas foi forçado a fugir da RDC por causa da instabilidade no país, e procurou asilo político na França, onde vive seu irmão. Ele se tornou cidadão francês em 2009.
“Deixar a África e vir para cá é como se mudar de um planeta para outro”, afirma. “Esses refugiados nunca viram neve e nunca moraram na Europa.”
Nicolas está estudando para um doutorado na área da educação. “Para refugiados como nós… capacitação e educação são os únicos caminhos para seguir em frente”.
Pierre e Denise moram em frente ao convento e, a princípio, estavam inseguros com a chegada dos refugiados. No entanto, o contato com os novos moradores rapidamente provou que seus medos eram infundados e, agora, eles querem mostrar que os nativos podem participar do acolhimento e da integração dos refugiados.
A primeira vez que conheceram os novos vizinhos, os cumprimentaram e deram doces às crianças. “Tudo correu bem desde então”, diz Pierre.
“Deveríamos levá-los às compras, dar uma volta com eles pelo país”, diz Denise, sua esposa.
Para Pierre, as crianças são a chave para a integração, e seria melhor se as crianças refugiadas mais novas fossem colocadas na creche junto com as crianças da vila.
Agora, o casal lamenta que os refugiados tenham que partir em breve. “Eles são nossos vizinhos”, diz Pierre. “Acho que o tempo que eles passaram aqui não é o suficiente”.
Duas vezes por semana, Farida, uma garota de 23 anos da Etiópia, treina no estádio em Saverne, a cerca de 10 quilômetros de Thal-Marmoutier. Ela se mantém firme quando chove ou neva, e treina apesar das circunstâncias. Ela está empenhada em alcançar seu sonho de se tornar uma campeã de atletismo.
“Quando eu era mais jovem, ia correndo para a escola”, diz, enquanto faz alongamentos na pista de corrida. “Então fui andando rumo à cidade grande para escapar dos problemas da minha vila, e finalmente cheguei até aqui”.
Um ex-professor de ginástica a avistou enquanto ela corria e decidiu oferecer-lhe ajuda. Desde então, eles se encontram nas tardes de terça-feira e, embora não falem a língua um do outro, sua paixão pelo esporte os uniu.
“Certa vez, treinamos logo depois de ter nevado”, diz. “Não foi um problema, e nem sentimos frio, pois tínhamos feito o aquecimento corretamente. No futuro, quero ser uma grande atleta e seguir sempre em frente. Eu quero ter sucesso neste novo país e no meu também”.
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