Ao cuidar dos outros, refugiados deixam os traumas para trás e ganham novos amigos na Hungria
BUDAPESTE, Hungria, 11 de janeiro de 2018 – Rita empurra um idoso em uma cadeira de rodas pelo corredor até o quarto. Radwa coloca a mesa para o almoço. As refugiadas, treinando para cuidar dos idosos em uma casa de repouso húngara, estão demonstrando ser um trunfo para uma sociedade com um retrospecto misto de recepção a solicitantes de refúgio.
“Não é fácil ser velho”, diz Rita Joy Osazee, 32 anos, do estado de Edo na Nigéria. “Eu sinto um forte desejo de cuidar dos idosos. Não sei por que, mas eu simplesmente amo eles”.
“Eu gosto desse trabalho”, diz Radwa Al Nazer, 29 anos, de Damasco, Síria. “Requer muita paciência e bondade, mas às vezes eu tenho vontade de chorar quando vejo que fiz um paciente feliz”.
Rita e Radwa estão em um curso de treinamento na casa de repouso Albert Schweitzer Reformed Elderly Home, em Budapeste. O curso é organizado pela MigHelp, uma ONG que visa ajudar refugiados e migrantes a conseguirem empregos capacitando-os.
A MigHelp foi co-fundada por James Peter, um ex-refugiado da África, que ficou chocado com a violência que às vezes via no antigo centro de recepção de Bicske, que agora encontra-se fechado.
“Muçulmanos e cristãos entravam em conflito”, diz James. “Eu entendi que não era realmente por causa da religião, mas por causa do tédio”.
James começou colecionando equipamentos de computação antigos e organizando cursos de informática. A MigHelp agora também realiza cursos de idiomas, condução, cuidado para idosos e crianças para aumentar as chances dos refugiados de conseguir um emprego.
O curso de cuidados para idosos envolve 110 horas de palestras e prática. Radwa já completou 40 horas e conheceu pessoalmente muitos dos idosos húngaros na casa de repouso.
“Deixe-me apresentá-la a Ilona”, diz Radwa, trazendo Ilona Karpati, 93 anos. Ilona, impecável com um vestido rosa, fala inglês fluentemente. “Eu vivi por 46 anos no Canadá, perto de Niágara Falls”, diz ela. “Sinto falta do Canadá, mas voltei para casa porque meu coração está na Hungria”.
Ilona está feliz de ser cuidada pelos refugiados e aproveita a oportunidade para falar inglês com eles. “Eles são muito agradáveis, adoráveis; e sorridentes”, diz ela.
Ao cuidar dos outros, os refugiados começam a deixar para trás os traumas que os forçaram a fugir de suas casas.
Radwa e sua família deixaram a Síria por causa da guerra, mas não vieram para a Europa no influxo de refugiados de 2015. Eles se mudaram para a Hungria há quatro anos porque o pai de Radwa, Anas Al Nazer, havia estudado medicina aqui nos tempos comunistas e falava húngaro. Radwa, que estudou psicologia na Universidade de Damasco, deu aulas de árabe e fez algumas obras de arte na Hungria. Atualmente ela está casada e está esperando um bebê.
Rita veio para a Hungria com outros refugiados em 2015. Ela agora trabalha em um restaurante, mas espera poder cuidar dos idosos como profissão.
“É gratificante trabalhar com pessoas”, diz ela. “Eu faço o café da manhã das pessoas idosas; e dou comida. Se eles não falam inglês, usamos linguagem corporal. Quando eles aceitam a comida que você oferece, significa que eles o aceitaram”.
Outras mulheres africanas que terminaram seu treinamento na casa de cuidados estão à disposição para dar conselhos a Rita e Radwa. Vindo de culturas onde os idosos são quase sempre atendidos por suas famílias, elas ficaram surpresas com a abordagem europeia para cuidar dos idosos. “Trabalhar aqui pode ser bastante emocionante”, diz Mercy Asizu, 30 anos, de Uganda. “Às vezes, os idosos choram”.
Tamas Szebenyovszky, um cuidador que trabalhou em casa de repouso há três anos, elogia a contribuição dos refugiados, mas diz que se eles esperam fazer carreira em tempo integral na profissão, a comunicação será crucial. “O meu melhor conselho é que eles façam curso de húngaro”, diz ele.
Barreira de linguagem à parte, Gezane Fekete parece satisfeita com o cuidado que recebe dos refugiados. A bisavó viúva de 97 anos é quase cega e sua audição é precária. Ela não pode mais ir à assembleia, mas escuta a transmissão da Igreja Reformed Church por um pequeno rádio em seu quarto.
“Não tenho queixas sobre os refugiados”, diz ela. “Eles estão sempre circulando por aí, fazendo suas tarefas muito bem. Uma delas me ajudou até no banheiro. Ela fez isso rápido, agradável e sorridente. Só posso dizer coisas boas sobre eles”.
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