Mãe de duas crianças pequenas e refugiada no Brasil, a congolesa Maria Clara Kalala superou todas as dificuldades para reconstruir sua vida no Rio de Janeiro.
O fim de uma etapa e a esperança de uma vida melhor. Maria Clara Kalala, da República Democrática do Congo, viu na educação um trampolim para vencer uma série de dificuldades e, no final de 2018, tornou-se a mais nova refugiada formada no ensino médio brasileiro.
A conquista não é pequena para quem enfrentou – e ainda enfrenta – tantos desafios. Kalala levava uma vida tranquila como dona de casa e mãe de duas meninas pequenas até seu marido começar a ser perseguido, ameaçado e preso. A família enxergou a fuga para o exterior como única saída para preservar sua liberdade. Kalala chegou ao Brasil em janeiro de 2017, acompanhada apenas das filhas, então com quatro e cinco anos, e diz que foi o país que a escolheu.
“Foi uma oportunidade. O governo brasileiro me deu o visto e por isso eu estou aqui, para salvar a minha vida e das minhas crianças”.
Apoiada pelo Programa de Atendimento a Refugiados (PARES) da Cáritas RJ, parceira da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), a congolesa de 48 anos foi matriculada no curso de português que a instituição tem em parceria com a UERJ e, posteriormente, revelou às assistentes sociais que gostaria de trabalhar com enfermagem. Como a formação técnica exigia o ensino médio completo e ela só havia terminado o fundamental, foi encaminhada, em junho de 2017, à Educação de Jovens e Adultos (EJA), na qual os estudantes podem ser diplomados em menos tempo do que na educação regular.
Para a congolesa, estudar significava ter conhecimento, ser valorizada e aprender português, direitos e história do Brasil. Mas às dificuldades naturais com o idioma, somaram-se a ausência de familiares com quem deixar as crianças e os contratempos financeiros. Kalala decidiu buscar emprego e fez um curso de camareira no Senac, que não demandava a formação escolar completa. Para economizar o dinheiro da passagem, chegou a percorrer quase dez quilômetros a pé. Quando a equipe de Integração da Cáritas RJ descobriu, custeou as despesas de transporte até o final do curso.
Kalala nunca conseguiu emprego como camareira e contou com a ajuda de uma igreja para pagar o aluguel, mas não desistiu dos estudos e, após um ano e meio, vestiu beca para receber o cobiçado diploma no final de 2018. Ela fala com carinho do curso, mas já pensa nos próximos passos da sua caminhada educacional.
“O curso foi legal, os professores foram muito prestativos. Agora quero fazer o curso técnico em enfermagem, que sempre foi meu sonho e vai me proporcionar ter um emprego seguro”, projeta.
Para a coordenadora do setor de Integração do PARES Cáritas RJ, Débora Alves, a força de vontade da congolesa para superar todas as dificuldades e conquistar a autonomia é inspiradora.
“Ela não desistiu daquilo que mais desejava e continua correndo atrás. É uma história que dá motivação e esperança para outros refugiados que estão vivendo momentos difíceis, porque mostra que, apesar de tudo, é possível ir em busca dos seus sonhos”.
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