Mary está no campo de refugiados de Kakuma desde 2013. Sua família fugiu do brutal conflito que atinge o Sudão do Sul quando ela tinha apenas 12 anos
Mary estuda em uma das escolas mais prestigiadas do Quênia © ACNUR/Hannah Maule-ffinch
Suas habilidades artísticas são óbvias para qualquer um que tenha visto seus esboços, embora tenha demorado um tempo para ela se acostumar com o cenário que hoje a inspira. “Kakuma é um local arenoso, é um deserto. De onde venho, no Sudão do Sul, é verde e fresco.”
Mary está em Kakuma desde 2013. Sua família fugiu do brutal conflito que atinge o Sudão do Sul quando ela tinha apenas 12 anos. Mary ainda se lembra da sensação de ouvir tiros pela primeira vez e ver as pessoas perderem seus entes queridos.
Levando o que podiam, Mary e sua família deixaram o país em busca de segurança. Depois de uma longa jornada, que se tornou ainda mais perigosa pela presença de criminosos e grupos armados ao longo do caminho, eles finalmente chegaram a Kakuma, onde o ACNUR lhes forneceu abrigo, suprimentos, alimentos e outros meios de ajuda.
Mary sentiu-se segura imediatamente. Mas isso não quer dizer que foi fácil se adaptar a um novo local.
“Eu costumava dizer que o próprio lar é sempre o melhor lugar para estar, então foi muito difícil no começo”, ela relembra. “Mas agora tudo está bem. Temos uma casa, comida e escola.”
Agora com 18 anos, Mary cursa o último ano de escola, que ela ama quase tanto quanto desenhar, tudo isso graças às possibilidades que lhe são oferecidas.
“No Sudão do Sul, eu não estava estudando. Meus irmãos e eu ficávamos em casa e ajudávamos minha mãe na agricultura e no trabalho doméstico, porque ela não conseguia pagar os nossos estudos. Aqui podemos aprender e ter um futuro melhor.”
Em 2002, o ACNUR e seus parceiros construíram a escola que Mary frequenta. O local, uma espécie de internato, é o único desse tipo em um campo de refugiados no Quênia, e foi criado para dar às meninas vulneráveis em Kakuma acesso a espaços seguros de aprendizado. As alunas não pagam nenhuma taxa para se matricular e recebem materiais de uso pessoal, vaga em um dormitório, comida e material escolar.
Quando perguntada sobre como ela se sentiu quando foi aceita na escola, Mary sorriu: “Eu estava admirada. Muitas meninas dessa escola estão se saindo bem e recebendo bolsas de estudos, então pensei: ‘vou para lá e assim realizo meus sonhos’. ”
E seus professores estão determinados a ajudá-la a alcançar esses sonhos. “Mary é uma garota muito boa, brilhante e trabalhadora”, diz Sabella, professora da escola. “No começo, não tínhamos conhecimento do talento dela para desenhar, mas logo descobrimos que ela é uma artista impressionante e tentamos desenvolver essa habilidade.”
Com o apoio das pessoas ao seu redor, Mary usa a internet para praticar e melhorar sua arte. O ACNUR e a Fundação Vodafone, por meio da iniciativa Instant Network Schools (INS), conectaram a escola à Internet, fornecendo aos alunos e professores tablets, programas e material de aprendizagem on-line, dando a refugiados como Mary acesso a oportunidades de aprendizado digital.
“Uso os tablets para assistir a vídeos de outros artistas, pesquiso e exploro o trabalho deles. Eu assisto e pratico”, explica Mary. “Os tablets são muito bons para nossos estudos, mas também são bons para nos ajudar nos nossos sonhos.”
Ela acredita que o alto nível da escola e de seus alunos, que estão entre os melhores do país tanto por atividades acadêmicas quanto por extracurriculares, se deve à iniciativa implementada pelo ACNUR e Fundação Vodafone.
“A educação é a única arma que pode combater a pobreza”
Mas essa não é a única coisa que fez com que a escola se tornasse o lugar o favorito da Mary. Para ela, interagir com pessoas de várias nacionalidades e culturas também é muito importante.
“Nos fins de semana, por exemplo, todos nós vamos ao refeitório e dançamos as danças tradicionais de nossos países”, diz Mary, explicando que as meninas ensinam umas às outras suas línguas e compartilham suas práticas culturais. “Com isso, aprendemos mais umas com as outras. Reunir todas as alunas é algo que nos fez crescer”.
Quando terminar os estudos, Mary quer dividir seu tempo entre uma carreira médica e sua paixão pela arte. Sua mensagem para outras garotas é para que também sejam ambiciosas.
“Nós, meninas, podemos fazer qualquer coisa. Se tivermos educação, podemos fazer as coisas por nós mesmas, e nossas vidas serão muito boas. A educação é a única arma que pode combater a pobreza.”
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