Refugiada síria reflete sobre impactos da guerra por meio da música

Em outubro de 2019, as melodias que Naleen cantavam foram interrompidas pelos ruídos do conflito. Assustadas, ela e a mãe fugiram rumo ao Iraque

Naleen, refugiada síria de 15 anos, e seu tanbur © ACNUR/Firas Al-Khateeb

Com graça e confiança, Naleen dedilha seu tanbur, um instrumento tradicional de cordas que é como uma extensão dela. Através da música que toca, ela conta sua história ao mundo.


Para Naleen, de 15 anos, a arte reflete a realidade: seu tanbur foi uma das únicas coisas que ela foi capaz de levar consigo quando fugiu da Síria há menos de seis meses.

Hoje, ela mora com a mãe no campo de refugiados de Bardarash, no Iraque. A música a mantém conectada com a vida que ela foi forçada a deixar para trás.

“Quando eu estava em casa, eu cantava para a minha mãe. Ela me dizia, ‘já que você canta tão bem, por que não toca um instrumento?'”, Naleen explica. “Eu escolhi o tanbur porque é curdo e é amado em Qamishly, minha cidade natal. Eu frequentava aulas de música e depois praticava em casa.”

De repente, em outubro de 2019, as melodias foram interrompidas pelos ruídos do conflito. “Quando o bombardeio começou, os sons eram assustadores e muito altos”, diz Naleen. “Começou às 17h e foram até o início da manhã. Não conseguimos dormir, porque pensávamos que a qualquer momento poderíamos ser atingindos.”

Assim que as coisas se acalmaram um pouco, Soleen e sua mãe fugiram para a casa de seu tio em uma vila próxima. Ainda se sentindo inseguras, correram rumo ao Iraque e cruzaram a fronteira.

“Quando chegamos, fiquei com muito medo. A todo momento pensava que poderia levar um tiro”, ela conta. “Mas foi o contrário. Quando chegamos, nos sentimos seguras. Fomos bem recebidas e levadas para o centro de recepção. Ficamos lá durante a noite e, no dia seguinte, fomos para o campo.”

Naleen, refugiada síria de 15 anos de idade, com sua mãe

Naleen, refugiada síria de 15 anos de idade, com sua mãe © ACNUR / Firas Al-Khateeb

Naleen e sua mãe são duas dos mais de 21.000 refugiados sírios que buscaram segurança no Iraque. O ACNUR e seus parceiros estão recebendo-os com abrigo, comida, assistência médica, cobertores, roupas quentes e outros itens emergenciais.

Mas uma tenda não é uma casa, e todos os dias Soleen sente falta de seu próprio quarto e de outros ambientes familiares. “Nossa casa era feita de barro. Tinha dois quartos e uma cozinha. Tínhamos algumas árvores no jardim, além de azeitonas e uvas”, lembra.

Em toda a região, aproximadamente 70% dos sírios que precisam de ajuda humanitária são mulheres e crianças. Após nove anos de conflito, crianças como Naleen sentem que suas vidas estão pausadas por tempo indefinido.

“Sinto falta da escola e do centro de aprendizado de inglês”, diz. “Se não fosse por essa guerra, eu já teria progredido e praticado mais.”

Seu tanbur é uma ponte entre a vida que ela teve que deixar para trás e o futuro que ela deseja alcançar. Ela conhece uma música triste que, infelizmente, se encaixa perfeitamente no seu dilema atual.

“Eu gosto dessa música, que fala sobre uma garotinha”, explica Naleen. “A letra diz que as crianças vieram a este mundo para serem felizes e brincar, não para morrer em uma guerra.”

“Minha mensagem ao mundo, a todos os países, é para que coloquem um fim à guerra na Síria”, continua ela. “Viver em meio à guerra é deprimente. Para as crianças, brincar em tempos de guerra é muito diferente de brincar quando há paz.”

Nos últimos nove anos o ACNUR tem trabalhado incansavelmente para ajudar famílias sírias a reconstruir suas vidas. Doe agora mesmo e salve vidas.