Informações divulgadas em abrigos da cidade incluem prevenção contra coronavírus, futebol, música e notícias sobre celebridades
“A gente aprende e lembra que no isolamento podemos também rir e fazer o que se gosta”, afirma Alcioni (esquerda), um dos participantes da Rádio Comunitária Warao em Manaus ©ACNUR/Felipe Irnaldo
Ele é um dos mobilizadores que participam desde abril das transmissões das rádios comunitárias dos abrigos Carlos Gomes e Nininberg Guerra, em Manaus, mobilizando adultos e jovens na produção de conteúdo participativo para divulgar informações, atualidades e entretenimento.
Esta é uma das estratégias do ACNUR (Agência da ONU para Refugiados) para fortalecer a proteção das populações indígenas venezuelanas no norte do país. Em parceria com o Instituo Mana e Secretaria Municipal da Mulher Assistência Social e Cidadania de Manaus (SEMASC), as rádios comunitárias nos dois abrigos compartilham informações confiáveis e atualizadas sobre a COVID-19. A ação conta com participação da organização Médico Sem Fronteiras (MSF).
Estima-se que cerca de 4 mil indígenas venezuelanos vivam no Brasil, dos quais 600 estejam em Manaus. Deste total, 534 refugiados foram recentemente realocados para espaços mais seguros na cidade, com o apoio das autoridades municipais. Os demais seguem nos abrigos onde já se encontravam, pois não foi necessária sua realocação.
Alcioni, como muitos de seus amigos e parentes, fala o idioma Warao e se comunica em espanhol. Sem dominar o português, este grupo sofre com a barreira do idioma e tem dificuldades para acessar atualizações sobre a pandemia e enfrenta o desafio adicional de passar pelo isolamento social longe de seus lares, em um abrigo temporário.
Com o projeto, Alcioni e a comunidade encontraram motivação para manterem-se informados, se integrarem dentro do abrigo e compartilharem a experiência comum de terem sido forçados a abandonar suas casas e comunidades para escaparem da fome e violência.
“Eu gosto de participar da rádio porque fazemos coisas novas. A comunidade participa, e aprendemos que no isolamento podemos também rir e fazer o que se gosta. E isso nos inspira a fazer coisas boas para o futuro”, ressalta o locutor da rádio Yakera Jokonae.
A pandemia do novo coronavírus é a pauta principal dos programas, que reforçam as medidas de prevenção divulgadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e reportam o número de pessoas infectadas e óbitos. Mas também há espaço e audiência para músicas e assuntos diversos, como futebol e a vida de celebridades.
“Sempre uso o esporte para melhorar o clima e ter assuntos para falar com outras pessoas, para que elas possam se sentir melhores. E, assim, vamos nos ajudando”, reforça Alcioni.
O trabalho começa com dias de antecedência. Cerca de 10 pessoas compõem a equipe de rádio de cada abrigo, que se divide em grupos e discutem pautas e temas de interesse da comunidade. No abrigo Nininberg Guerra, a atividade conta com a liderança de Eudismari Mariano, 30, monitora comunitária Warao.
“Gosto de participar de todo o processo, falando de esporte, medicina, cultura… Tudo isso ajuda a compartilhar coisas que nos interessam com muitas pessoas do abrigo”, afirma a venezuelana que vive no Brasil há 1 ano e 7 meses.
Os programas acontecem semanalmente, são apresentados ao vivo e contam com a participação de convidados especiais, como médicos e trabalhadores humanitários. Não é incomum que os ouvintes façam perguntas, comentários e até mesmo dança e canto de suas canções favoritas, que são amplificadas a partir de um celular. Até novidades sobre celebridades, inclusive infectadas pelo COVID-19, aparecem no roteiro do programa.
“A informação é nossa maior ferramenta de prevenção, e ninguém melhor do que a comunidade para saber a melhor forma de transmiti-las”, destaca a assistente de proteção do ACNUR em Manaus, Juliana Serra.
“Nada melhor do que engajar a comunidade no trabalho prevenção. Como resultado, temos uma comunidade engajada, pessoas informadas e desenvolvendo capacidades e conhecimentos de comunicação. Esse é um espaço em que compartilham também suas preocupações e o que estão vivenciando enquanto refugiados em meio à pandemia”, avalia.
Para Adriana Lira, 26, liderança indígena que repassa informações sobre a rotina e deveres dos acolhidos no abrigo Carlos Gomes, a rádio se tornou uma ferramenta muito útil.
“Todo mundo gostou da rádio no abrigo, pois não é apenas só uma oportunidade de ouvir música, a gente também pode informar sobre a rotina do abrigo, o que fazer e o que não fazer, acaba sendo muito legal para passar informação sobre auxílio emergencial, dizer o que deu certo e o que não deu”, destaca.
Esta ação recebe o apoio de doadores como o Escritório de População, Refugiados e Migração (PRM) do Departamento de Estado dos Estados Unidos, que permite ao ACNUR uma maior flexibilidade para o uso de seus recursos por meio de contribuições feitas sem destinação específica, possibilitando a realização de diferentes projetos voltados à proteção da população refugiada em situação de vulnerabilidade.
Emergência dentro da emergência – Com a chegada da pandemia, o ACNUR tem intensificado a resposta emergencial à população venezuelana deslocada a fim de garantir melhores condições de saneamento, acomodação e acesso à informação.
Em Manaus, cerca de 600 indígenas Warao estão sendo apoiados com diversas atividades de proteção à COVID-19, incluindo a realocação para espaços mais seguros apoiados pelas autoridades municipais, onde têm alimentação três vezes ao dia, além de sessões informativas sobre o coronavírus e medidas de prevenção. Para os abrigos, o ACNUR forneceu colchões, camas, kits de higiene e limpeza e orientação técnica.
O ACNUR segue atuando no Brasil e no mundo para proteger refugiados, pessoas deslocadas e comunidades que os acolhem do novo coronavírus.
Doe AGORA para apoiar os nossos esforços. Você pode salvar vidas!
Compartilhe no Facebook Compartilhe no Twitter