“Tudo queimou, restaram apenas cinzas”

Refugiados Rohingya que perderam tudo no incêndio massivo que devastou um campo no sul de Bangladesh, na segunda-feira, se preparam para recomeçar – mais uma vez.

Halima perdeu tudo no incêndio que devastou grande parte do campo de Kutupalong. Ela ainda não sabe do paradeiro de um de seus filhos. © ACNUR/Amos Halder

Halima, 37 anos, estava em seu abrigo no campo Kutupalong com seus cinco filhos quando o som de pessoas gritando chamou a sua atenção.


“Quando saí, eu vi o fogo se aproximando de nós”, afirmou.

Halima, que apenas responde por seu primeiro nome, ficou paralisada sem saber o que fazer, mas quando seus filhos começaram a chorar e gritar, ela os pegou e começou a correr.

“Eu os carreguei o máximo que pude, mas como eu poderia correr carregando quatro crianças ao mesmo tempo?”.

Ela disse a quatro de seus filhos que a esperassem enquanto ela corria de volta ao abrigo com seu filho mais novo para tentar salvar alguns pertences.

“Quando cheguei lá, minha casa estava em chamas. Eu tentei pegar algumas coisas que mantínhamos em um baú, mas era pesado demais para levar enquanto carregava meu filho”.

Ela desistiu do baú e voltou correndo para os outros filhos. Mas, para o seu horror, eles não estavam em seu campo de visão.

“Eu senti que meu mundo estava desmoronando”

“Enquanto eu olhava para pessoas gritando e correndo, eu senti que meu mundo estava desmoronando. Eu não sabia onde meu marido estava, eu tinha me perdido dos meus filhos e minha casa estava em chamas”.

Na última segunda (22), o fogo que separou Hamila de seu marido e crianças destruiu uma grande área de Kutupalong, o maior campo de refugiados do mundo, casa de cerca de 700.000 refugiados Rohingya de Mianmar.

Nas primeiras horas da manhça de terça-feira, quando o fogo foi controlado, ele já havia devastado mais de 9.500 abrigos e outras instalações como centros de saúde, pontos de distribuição e centros de aprendizado, deixando 45.000 refugiados desabrigados.

Quatro dias depois, 11 refugiados tiveram suas mortes confirmadas e mais de 300 continuam desaparecidos. Dezenas de crianças continuam separadas de suas famílias.

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O incêndio intenso que se espalhou pelo campo de refugiados de Kutupalong em 22 de março destruiu mais de 9.500 abrigos e deixou cerca de 45.000 refugiados Rohingya desabrigados. © ACNUR/Louise Donovan

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O incêndio também destruiu hospitais, centros de aprendizado e pontos de distribuição. © ACNUR/Louise Donovan

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Centenas de voluntários refugiados estão ajudando a entregar itens de emergência como alimentos, abrigo, apoio médico e psicológico às famílias afetadas pelo incêndio. © ACNUR/Amos Halder

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Depois de perder seu abrigo e todos os seus pertences no incêndio, Rokiya Begum, 27 anos, e sua família estão hospedados com sua sogra. © ACNUR/Iffath Yeasmine

Hamila eventualmente encontrou uma de seus filhos com a sogra da filha mais velha e depois encontrou seu marido. Dois dias depois, ela escutou o nome de dois de seus filhos sendo anunciados em um alto-falante e se reuniu com eles. Porém, um filho ainda continua desaparecido.

“Eu não desejo nada mais além de encontrar meu filho e começar uma nova vida”, afirmou.

Nos dias seguintes após o fogo, o ACNUR, Agência da ONU para Refugiados, junto com autoridades de Bangladesh, a OIM e outras agências humanitárias, começaram a ajudar dezenas de milhares de refugiados a iniciarem o doloroso processo de recomeçarem suas vidas das cinzas.

Alguns deslocados pelo fogo amontoaram-se em abrigos com outros parentes, enquanto outros estão alojados em abrigos temporários de emergência até que suas casas possam ser reconstruídas. O ACNUR está entregando itens essenciais como cobertores, utensílios de cozinha e lâmpadas, enquanto o Programa Mundial de Alimentos está providenciando refeições quentes. Latrinas de emergência e torneiras improvisadas também foram montadas e equipes móveis de médicos estão tratando dos refugiados com queimaduras.

A porta-voz do ACNUR em Cox’s Bazar, Louise Donovan, disse que uma das maiores necessidades tem sido a entrega de apoio psicológico para os refugiados, muitos já traumatizados de quando tiveram que fugir de Mianmar em 2017.

“É muito importante que o ACNUR, junto com outros parceiros humanitários, tente providenciar assistência básica e também apoio psicológico para queles que passaram por um trauma depois de outro”, disse.

“Tudo queimou, restaram apenas cinzas. Precisamos recomeçar do zero”

Rokiya Begum, 27 anos, fugiu apenas com seus documentos e seus filhos quando o fogo começou a se espalhar pela parte do campo onde morava. Ela e sua família escaparam sem ferimentos, apesar de terem ficado separados por horas durante o caos, mas Rokiya disse que viu outros sendo engolidos pelas chamas, incluindo uma criança.

“Foi uma visão horrível, mas não podíamos ousar salvá-la”.

Ela e sua família estão agora morando com sua sogra. Assim como Halima, eles perderam tudo.

“Tudo queimou, restaram apenas cinzas”, disse. “Precisamos recomeçar do zero”.

 

Reportagem por Iffath Yeasmine em Cox’s Bazar, escrito por Kristy Siegfried.


Desde que um incêndio de grandes proporções atingiu o campo de refugiados de Kutupalong, em Bangladesh, estima-se que 10.000 abrigos foram destruídos. Cerca de 45.000 pessoas estão deslocadas.

O ACNUR está atuando no local para responder a esta emergência e, até o momento, já distribuiu mais de 3.000 cobertores, 14.500 lâmpadas solares, 7.000 conjuntos de cozinha e 7.000 redes mosqueteiras.

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