Diagnóstico lançado pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), Pólis Pesquisa e AVSI Brasil aponta aspectos positivos da mão de obra venezuelana
Manaus e Boa Vista, 30 de novembro de 2022 – Nas capitais de Manaus e Boa Vista, no Norte do Brasil, os setores de serviços, agropecuária, e indústria revelam potencial para a contratação de pessoas refugiadas e migrantes da Venezuela com diversos níveis de escolaridade e formações profissionais. Além disso, empregadores desses estados já vêm sendo beneficiados pelo intercâmbio cultural e de conhecimentos trazidos por estes profissionais no dia a dia dos resultados das empresas.
Essas são algumas informações trazidas pela pesquisa “Diagnósticos para a promoção da autonomia e integração local de pessoas refugiadas e migrantes venezuelanas em Roraima e Manaus: setor produtivo e potencialidades”, elaborada pela Pólis Pesquisas e lançada nesta semana pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) em parceria com a AVSI Brasil e apoio do Ministério Público do Trabalho no Amazonas e em Roraima (MPT-AM/RR).
Retratadas no diagnóstico, Manaus e Boa Vista sediaram debates sobre a pesquisa com representantes do poder público local, da sociedade civil, do setor privado e pessoas refugiadas.
A partir da análise de dados e entrevistas aprofundadas com 20 representantes de diferentes segmentos produtivos de ambas as cidades, a pesquisa é uma importante ferramenta para guiar ações voltadas à integração local da população refugiada e migrante com foco no potencial que estes profissionais já possuem para agregar suas experiências à produtividade do setor privado.
“A partir da análise de dados secundários relativos à contribuição de cada segmento econômico com o Valor Adicionado Bruto (VAB) de cada cidade, identificamos os setores produtivos de maior participação na economia para entrevistas em profundidade junto com os seus representantes de classe”, explicou a pesquisadora Bertha Maakaroun, coordenadora da Pólis Pesquisas.
O diagnóstico revelou que a atividade econômica e a oferta de vagas do Polo Industrial de Manaus (PIM) são importantes para a população que vive no estado do Amazonas e podem incluir pessoas refugiadas que buscam emprego formal em Manaus, conforme o perfil profissional disponível, e adiciona que também os setores de serviços, comércio e construção civil apresentam oportunidades com perfis diversos.
“O PIM tem cerca de 100 mil postos de trabalho, enquanto o de serviços e comércio passa de 400 mil. Ambos os setores demandam níveis de escolaridade e capacidades diversas, seja trabalhando na montagem na indústria, em reparos e outros serviços relacionados ao setor, ou em bares, restaurantes e outros ofícios bastante demandados”, destacou Bertha.
No caso de Roraima, apesar da prevalência do setor público e de serviços, o agronegócio, a construção, a indústria de transformação e o setor de turismo devem ser observados pela diversidade de oportunidades ofertadas, muito embora a economia tenha proporções diferentes das de Manaus.
“São setores que demandam por diferentes ofícios, os mais recorrentes são eletricistas, técnicos em instalação e manutenção de ar-condicionado, mecânica e manutenção de maquinário pesado empregado no setor agrícola e na indústria da construção”, explica Bertha.
Ainda, “profissionais como web designers, produtores de vídeos e conteúdo digital, gestores de redes sociais, que atuem nessas novas plataformas comunicacionais, podem apoiar nas diferentes frentes do comércio como um todo, principalmente depois da pandemia”, completa.
O diagnóstico também escutou liderenças e representantes de diferentes setores sobre a mão de obra proveniente da Venezuela. Em todos os setores produtivos pesquisados, são percebidos aspectos positivos desta força de trabalho.
Os entrevistados avaliaram que as pessoas refugiadas estão dispostas a se deslocarem onde haja oportunidades de trabalho, são esforçadas no aprendizado e execução das tarefas, têm bom relacionamento interpessoal e facilidade em interagir com novos colegas, além de conseguirem trazer novas culturas e capacidade de inovação para o ambiente de trabalho.
“Nós, do setor de bares e restaurantes, constatamos essas qualidades também no dia a dia. Agregam valor ao trabalho, ajudam os colegas e colaboram. Nós temos tido experiências muito positivas por nossos associados”, destacou Rogério Cunha, representante da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).
Os empregadores também relataram a necessidade de fortalecimento da proficiência em português para as pessoas refugiadas como ponto a ser aperfeiçoado para facilitar o processo de contratação, considerando que eventuais dificuldades de compreensão daqueles com menor proficiência no idioma são um desafio para o pleno andamento das rotinas de trabalho.
Além disso, reforçam a importância de regularização dos documentos para que as oportunidades de trabalho sejam efetivadas, bem como para o acesso a cursos de qualificação que promovam mais conhecimentos sobre as especificidades locais. Nesse sentido, parcerias entre o setor privado e instituições que promovam capacitações podem ajudar a suprir a demanda por mão de obra qualificada que requer apenas este ajuste de conhecimentos técnicos.
O ACNUR e seus parceiros no Brasil seguem promovendo atividades voltadas para a integração local de pessoas refugiadas e migrantes da Venezuela e de outras nacionalidades. As ações incluem oferta de cursos de português, qualificação profissional, elaboração de currículos, preparações para entrevistas e encaminhamentos para vagas de emprego condizentes com as formações destes profissionais.
“Esta pesquisa deve servir de apoio para que ações importantes sejam potencializadas, com os diversos atores e organizações locais engajadas. Esta participação ativa dos diferentes atores e setores para a integração local da população refugiada e migrante torna possível alcançar êxito nos esforços para a promoção da inclusão socioeconômica e do crescimento da economia local, diversificando as receitas e os resultados do setor privado”, destacou o Representante do ACNUR, Oscar Sánchez Piñeiro.
Para a procuradora-chefe do MPT-AM/RR, a pesquisa deve nortear o trabalho conjunto que várias instituições têm integrado para a autossuficiência de pessoas refugiadas e migrantes em Roraima e no Amazonas.
“As contribuições desta pesquisa serão fundamentais para que o trabalho desenvolvido pelas diversas organizações voltadas à integração local de pessoas refugiadas e migrantes da Venezuela seja fortalecido e tenha impacto tanto com a absorção de pessoas em empregos dignos, quanto na construção da autonomia em nível local”, conclui.
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