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“Espero que o foco no Afeganistão continue. O ACNUR permanecerá a longo prazo”

“Espero que o foco no Afeganistão continue. O ACNUR permanecerá a longo prazo”

17 Setembro 2021
Caroline Van Buren, Representante do ACNUR no Afeganistão © ACNUR / Susan Hoppe
As últimas semanas foram extremamente turbulentas para o Afeganistão, mas funcionários e parceiros do ACNUR permanecem no país, prestando ajuda e proteção a muitos dos 3,5 milhões de deslocados internos do país, incluindo mais de meio milhão de pessoas forçadas a fugir de suas casas desde o início deste ano. A representante do ACNUR no Afeganistão, Caroline Van Buren, explica como seus colegas estão se adaptando e respondendo à crise humanitária.

Qual é a situação em Cabul no momento? E como você e sua equipe estão se sentindo?

Atualmente, a situação é relativamente calma. Os conflitos continuam em algumas áreas e ainda ouvimos alguns tiros esporádicos, mas menos do que nos primeiros dias. A situação está voltando lentamente a algum tipo de normalidade. Não sabemos o que o futuro nos reserva, o que vai acontecer, não sabemos quando um governo entrará em vigor, então, estamos vivendo um dia de cada vez e esperando pelo melhor. Nós estamos bem levando em consideração as circunstâncias. A equipe ainda está bem confusa. Alguns estão com medo e outros querem voltar ao trabalho.

Em relação às questões de segurança, em que medida é possível prestar assistência neste momento? E que tipo de assistência tem sido implementada?

Nós temos acesso a todas as 34 províncias, em 299 de 450 distritos. Às vezes pode estar tudo bem em uma área e nem tanto em outra. Varia muito, nunca sabemos ao certo e temos que garantir a segurança da equipe. Até agora, o Taleban tem respeitado nossas instalações e operações, mas a situação muda o tempo todo e temos que ser cautelosos, não apenas pelo ACNUR e nossa equipe, mas também por conta de nossos parceiros. Trabalhamos com muitos parceiros em todo o país. A maioria deles fazem parte de ONGs nacionais e, portanto, possuem mais acesso do que nós em algumas áreas.

Estamos implementando a resposta de emergência para pessoas que se deslocaram e que precisam de assistência imediata, pessoas que fugiram de suas casas sem absolutamente nada. Fornecemos itens essenciais de sobrevivência, providenciamos abrigo, água, tratamentos de saúde, saneamento e alimentação. Também providenciamos assistência em dinheiro, sempre que possível.

Iniciamos a resposta de emergência já há algum tempo pois os conflitos têm sido contínuos. Após o anúncio, em maio, de que as forças militares internacionais iriam embora, tivemos essa urgência, mas o conflito é permanente. Só neste ano, já fornecemos assistência emergencial a mais de 200.000 pessoas.

Quais são as necessidades mais urgentes neste momento, especialmente para as pessoas que foram deslocadas recentemente?

Definitivamente comida, mas também abrigo, água, saneamento e itens básicos de sobrevivência como lonas plásticas, baldes, cobertores e cilindros de gás para cozinhar. Além disso, “kits dignidade” para mulheres e kits de higiene. Itens básicos de sobrevivência que alguém necessita quando é preciso fugir de casa sem poder levar nada.

O que é feito para garantir a segurança da equipe e dos parceiros no momento de distribuição desses itens?

O próprio Taleban tem nos incentivando a retomar nossas atividades; eles dizem que vão nos fornecer a segurança necessária. Então, por enquanto, estamos retomando nosso trabalho na maioria das áreas, mas apenas quando temos sinal verde do Taleban.

Em que medida os afegãos conseguem se deslocar na tentativa de cruzar a fronteira com segurança?

A maioria das fronteiras estão fechadas. O único lugar em que as pessoas podem entrar e sair atualmente é em Spin Boldak, a fronteira com o Paquistão. Lá é onde fazemos negócios, normalmente. Nos últimos dias, 20.000 pessoas [saíram] e 19.000 pessoas [entraram]. Não são necessariamente pessoas em busca de asilo. Esta é uma fronteira muito movimentada e estes são os números que temos regularmente.

Temos pessoas que vão ao Paquistão para receber cuidados médicos, pessoas indo para a escola, para trabalhar, para ficar com suas famílias. E temos o mesmo número de pessoas vindo para o Afeganistão. Para Spin Boldak, você consegue sair por Kandahar, onde nossos colegas e parceiros estão dizendo que há certa liberdade de movimento. Existem pontos de verificação, mas não há grandes problemas em relação a isso.

Há outros pontos de fronteira, por exemplo, os pontos de fronteira com o Irã, em que você precisa de um documento de viagem e um visto. Por isso algumas pessoas estão acionando contrabandistas para se mover através desses pontos de fronteira irregulares. As fronteiras com o Tajiquistão, Uzbequistão e Turcomenistão estão fechadas para a circulação de pessoas e outras fronteiras estão abertas apenas para o tráfego comercial, como o de caminhões trazendo suprimentos.

Houve uma grande ênfase nas evacuações do aeroporto de Cabul e nas ofertas de reassentamento dos vários países. Para aqueles que não sabem, você poderia explicar por favor, a diferença entre evacuações, reassentamento e também qual o papel da ACNUR nesses dois processos?

Diversos países estão evacuando seus cidadãos, residentes permanentes, assim como afegãos que trabalharam para eles. O ACNUR não está envolvido nessas ações. Somente nos envolvemos quando se trata de reassentamento e apenas naqueles realizados a partir de um país de asilo. Portanto, um cidadão afegão teria que deixar seu país de origem, ir para um país de asilo e depois, esgotadas as soluções no país de asilo, então podemos procurar um terceiro país, isto é o que chamamos de reassentamento. É um processo demorado que envolve uma série de entrevistas, verificações e infelizmente está disponível apenas para uma porção muito pequena das pessoas refugiadas mais vulneráveis.

Quais os grupos populacionais que mais preocupam no momento?

Jornalistas, outros profissionais da mídia, pessoas que são percebidas como apoiadoras do antigo governo, pessoas que apoiam as forças militares internacionais e membros dos grupos étnicos minoritários. Para mulheres e meninas, a política também não tem sido muito clara, difere de área para área. Em algumas áreas, estamos sendo informados de que as mulheres devem ficar em casa e não podem trabalhar. Em outras áreas, dependendo do trabalho que estão fazendo, elas têm permissão para trabalhar.

O que pode ser feito para ajudar os afegãos em necessidade neste momento?

A primeira coisa que pedimos é que os países mantenham suas fronteiras abertas para que os afegãos que desejam sair para buscar proteção internacional possam fazê-lo.

A segunda coisa que gostaríamos de pedir é que haja apoio para as pessoas deslocadas internamente. Precisamos de assistência para aqueles que tiveram que deixar suas casas para salvar suas vidas. Precisamos também de apoio com a “programação regular”, é assim que chamamos. Ajuda para restaurar a vida e prover sustento para as pessoas que estão voltando para as suas casas; reparo e construção de infraestrutura danificada; formas de garantir que as pessoas tenham meios de subsistência.

Então, esses são os três níveis: primeiro, manter as fronteiras abertas, segundo fornecer assistência de emergência para salvar vidas e, em seguida, reparar e construir infraestrutura e instalações danificadas para que as pessoas possam voltar para casa.

Tudo isso exige o apoio da comunidade internacional e atualmente nossa resposta no Afeganistão estpa apenas 43% financiada.

Espero que o foco no Afeganistão continue e que não desapareça após algumas semanas. O ACNUR permanece no país a longo prazo.


Violência e insegurança trouxeram mais sofrimento para milhares de afegãos!

A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) está alarmada com os desdobramentos dessa crise humanitária e seus impactos sobre mulheres e crianças, que representam aproximadamente 80% dos afegãos forçados a abandonar suas casas para escapar da violência.

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