4 iniciativas do ACNUR para apoiar mulheres e meninas refugiadas no Brasil
4 iniciativas do ACNUR para apoiar mulheres e meninas refugiadas no Brasil

Mulheres refugiadas reunidas na formatura do curso oferecido pelo Empoderando Refugiadas em março de 2025 em Boa Vista (RR)
BRASÍLIA - No mês marcado pelo Dia Internacional da Mulher, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) alerta que a falta crítica de financiamento está deixando mulheres e meninas refugiadas e em necessidade de proteção internacional em risco sem precedentes.
No Brasil, há mais de 820 mil pessoas em necessidade de proteção internacional¹ e deste total, mais de 45% são mulheres e meninas². Elas enfrentam desafios e riscos desproporcionais quando são forçadas a se deslocar, que podem incluir acesso limitado à educação, saúde e oportunidades de subsistência, bem como aumento do risco de violência. Considerando estas e tantas outras barreiras, o ACNUR tem construído sua atuação com escuta e proximidade às mulheres atendidas, a fim de que elas possam participar ativamente moldando e tomando decisões sobre as soluções que impactam suas vidas.
Conheça algumas iniciativas que apoiam mulheres e meninas refugiadas ou em necessidade de proteção internacional no Brasil:
1. Organizações lideradas por refugiadas
Em 2024, foram mapeadas 20 e, deste total, 14 receberam aporte financeiro do ACNUR para que pudessem seguir com atendimentos e prestação de serviços às suas comunidades. Fortalecer estas organizações garante que as soluções reflitam as necessidades locais e que sejam sustentáveis e eficazes.
2. Empoderando Refugiadas: capacitação e emprego
Mulheres dos mais diversos perfis são contempladas em iniciativas que fomentam educação e geração de renda, seja por meio do trabalho formal, empreendedorismo ou primeiro emprego. O programa Empoderando Refugiadas, realizado pelo ACNUR, ONU Mulheres e Pacto Global – Rede Brasil, há dez anos capacita mulheres para a inclusão no mercado de trabalho brasileiro e sensibiliza o setor privado para a contratação. O projeto se conecta à Estratégia de Interiorização, visto que muitas refugiadas abrigadas em Boa Vista conquistam uma vaga de emprego em outra cidade.

A venezuelana Adriana foi representante de sua turma e discursou na formatura do programa Empoderando Refugiadas, realizada pouco antes do Dia Internacional da Mulher
Adriana é uma destas mulheres. Ela se formou na primeira turma do Empoderando Refugiadas de 2025 e foi porta voz das participantes na formatura que ocorreu dia 6 de março em Boa Vista. Em seu discurso, ela celebra que mesmo antes de concluir os estudos, já havia sido aprovada para uma vaga de trabalho e será interiorizada com os dois filhos para o Paraná.
“Apesar de muitas pessoas verem como impossível que uma mãe de dois filhos pequenos possa conseguir alcançar suas metas neste país, quero servir de exemplo e mostrar que sim. Se colocamos empenho, fazemos as coisas da maneira certa, se nos deixamos guiar corretamente, vamos conseguir”, celebra Adriana. A 10ª edição do Empoderando Refugiadas foi lançada em fevereiro e deve formar 200 mulheres em 2025.
3. Mujeres Fuertes: refugiadas empreendedoras
Um premiado projeto desenvolvido em parceria com o Ministério Público do Trabalho (MPT-AM/RR), organização Hermanitos e com apoio do Tribunal Regional do Trabalho da 11.ª Região, capacita mães-solo ou chefes de família refugiadas para alcançarem a autonomia financeira por meio do empreendedorismo – por vezes, a única alternativa encontrada pela mulher para conciliar os cuidados de suas famílias com a necessidade de geração de renda.
As participantes recebem materiais de trabalho, assistência financeira e acompanhamento durante a fase inicial do empreendimento. O impacto disso pode ser percebido na plataforma Refugiados Empreendedores, que anuncia 169 pequenos negócios de pessoas refugiadas. Destes, quase 60% são empreendimentos de mulheres.
4. Jovens em Ação: a preparação para o primeiro emprego
Com os mesmos parceiros do Mujeres Fuertes, foi criada a iniciativa Jovens em Ação, que oferece uma jornada formativa voltada para a conquista do primeiro emprego, pensando também nas jovens de 14 a 22 anos. Investir em educação, saúde e oportunidades econômicas para mulheres e meninas deslocadas é um poderoso catalisador para a transformação econômica. Para o Representante do ACNUR no Brasil, Davide Torzilli, as iniciativas reforçam o compromisso com a proteção de mulheres e meninas refugiadas.
“Em 2025, estamos priorizando programas para prevenir e responder à violência contra mulheres e meninas deslocadas à força e apátridas; para apoiar sua resiliência e subsistência; e fortalecer organizações lideradas por elas. Assim, seguimos apoiando e implementando também o Plano de Aceleração da Igualdade de Gênero da ONU, uma estratégia abrangente para orientar as Nações Unidas e suas entidades a atuarem de forma eficaz em benefício das mulheres e meninas”.
Lembramos que mulheres e meninas deslocadas não são apenas sobreviventes; elas são líderes e agentes de mudança. Devemos manter e aumentar o investimento em sua segurança, educação e empoderamento econômico para quebrar esses ciclos viciosos de violência e promover mudanças duradouras.
1. No Brasil, as populações em situação semelhante à de refugiado incluem: (i) aqueles que acessam autorizações temporárias de residência por razões humanitárias – disponíveis para afegãos, ucranianos, sírios e haitianos como alternativa ao sistema de asilo; e (ii) pessoas que optaram por outras formas de documentação, em vez de solicitar asilo, mas cujos países de origem foram oficialmente reconhecidos pelo Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE) como estando em situação de graves e generalizadas violações de direitos humanos, conforme definido na Lei n.º 9.474/1997, art. 1º, inciso III – Burkina Faso, Mali, Iraque, Afeganistão , Síria e Venezuelanos (residentes);
2. Dados de dezembro/2024.