Depois de um ciclo olímpico de treinamentos, Ibrahim Al Hussein se esforçará para conquistar a primeira medalha olímpica do time de refugiados
São Paulo, 26 de agosto de 2021 – Poucos atletas enfrentaram uma jornada tão difícil, mas ao mesmo tempo repleta de esperamça, como Ibrahim Al Hussein. Em sua segunda paralimpíada, a história do atleta – que foi porta-bandeira nos Jogos Olímpicos Rio 2016 e integra novamente a Equipe Paralímpica de Refugiados do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês), em parceria com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) – sempre foi acompanhada pela dedicação ao esporte.
Ele se apaixonou pela natação ainda muito jovem e começou a nadar com apenas cinco anos de idade. Seu pai era treinador de natação e na juventude conquistou duas medalhas de prata no Campeonato Asiático. Ibrahim sonhava em seguir os passos do pai e um dia representar seu país nas Olimpíadas. “Eu nadei, fiz judô e outros esportes de forma bastante competitiva. Eu só não queria treinar com meu pai porque ele era muito duro com seus atletas”, relembra.
Tudo mudou em 2011, quando os conflitos e a violência na Síria explodiram. “Não conseguia treinar. Não tínhamos permissão para sair. Esse foi o início dos tempos mais difíceis na Síria”, conta. No início de 2012, a situação na região se agravou e seus pais, com seus 13 irmãos, tiveram que deixar sua casa em busca de um lugar mais seguro. O jovem de 22 anos ficou para trás.
A vida do atleta se transformou quando um de seus amigos estava indo embora de sua casa e foi atingido por um atirador. “Ele caiu no chão e clamava por socorro. Eu sabia que se fosse ajudá-lo, também poderia levar um tiro. Mas decidi que precisava ajudar porque sabia que nunca seria capaz de me perdoar ao vê-lo morrer no meio da rua.”
Segundos depois, uma bomba explodiu quando ele e outras três pessoas tentavam ajudar o amigo. Ibrahim perdeu a perna direita na explosão e seu tornozelo esquerdo foi gravemente ferido, além de ter sofrido outros ferimentos. Por causa da guerra, era difícil encontrar profissionais e instalações médicas, e o médico que cuidou de suas feridas era, na verdade, um dentista.
Depois do incidente, o nadador se viu em uma cadeira de rodas e precisava de muitos cuidados. Suas esperanças e ambições foram destruídas com a explosão. Três meses depois, ele decidiu que era hora de procurar um lugar mais seguro para morar, onde pudesse receber um tratamento digno, humano. Com a ajuda de um amigo, cruzou o rio Eufrates e chegou ao sudeste da Turquia, onde a situação ainda não era estável o suficiente. Viajou até Istambul, onde conheçeu outras pessoas sírias que o ajudaram a encontrar um local para morar.
Da Turquia, Ibrahim decidiu ir até a Grécia, onde conheceu um médico especialista em próteses. Em maio de 2014, um mês após receber sua prótese, encontrou um clube esportivo que o acolheu não como nadador, mas como jogador de basquete em cadeira de rodas.
Por quase um ano, ele dividiu seu tempo entre o trabalho como faxineiro, os treinos e a constante busca por uma piscina e clube que o aceitassem. “Foi a piscina olímpica durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2004 em Atenas. Poder treinar naquela piscina depois da minha jornada como refugiado me motivou a continuar na esperança de que um dia eu pudesse transmitir uma mensagem para o mundo inteiro”, afirma com seu olhar esperançoso.
Seis meses depois, houve um campeonato de natação em Atenas e Ibrahim terminou em primeiro lugar em uma das provas. Isso lhe rendeu um convite alguns dias depois para o Campeonato Nacional de Natação da Grécia, onde ganhou ouro e prata em duas das provas. Com esses resultados, o nadador estava no radar dos oficiais do esporte gregos que souberam de sua história como refugiado.
Em abril de 2016, ele foi convidado a carregar a tocha olímpica por um abrigo para refugiados em Atenas como representante das pessoas refugiadas em todo o mundo. Em uma entrevista na época, ele disse que tinha a esperança de que um dia, refugiados pudessem participar dos Jogos Paralímpicos.
Na Paralimpíada do Rio de Janeiro, o sírio foi o porta-bandeira e carregou a Bandeira Paralímpica no Maracanã, durante a cerimônia de abertura, representando a primeira Equipe Paralímpica de Refugiados. Os Jogos Rio 2016 contou com dois atletas refugiados: ele e o lançador de disco iraniano Shahrad Nasajpour.
“Quero que todos os refugiados tenham oportunidades no esporte. Não consigo imaginar minha vida sem o esporte. Eu posso parar de comer, mas não consigo parar de praticar esportes na minha vida. É o que me faz continuar.”
Ibrahim faz parte agora do time de refugiados com outros cinco atletas paralímpicos e afirma que, com a drástica pandemia da Covid-19, as pessoas estão mais interessadas em conhecerem histórias de resiliência. “Foi muito sofrimento e muita resistência em minha jornada. Por ser uma pessoa com deficiência e também ser refugiada, tive que ir de um lugar para outro sem saber o que o futuro traria”, completa.
Confira os detalhes da agenda de competição do atleta, de acordo com o horário de Brasília:
Natação | Ibrahim Al Hussein: 26/08 (5ª feira), às 10h55
Mais informações sobre a Equipe Paralímpica de Refugiados está disponível em www.acnur.org.br/timederefugiados
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